Depois de mais uma temporada de presentes, Noel nos recebeu em sua casa de praia no Rio de Janeiro. Embora viva parte do ano na Escandinávia, é normal passar um período no litoral brasileiro, geralmente do dia 26 de dezembro ao final de fevereiro.
A única condição da entrevista foi não revelar seu endereço brasileiro, por motivos óbvios. Medo da criançada? Não, nada disso, sequestro mesmo. Desse modo, prefere continuar sendo chamado de Juarez Santana ou Lorivaldo Belotto. E ele brinca: “quando falam que sou um, digo que sou o outro e, por se tratar de uma confusão normal aqui no Brasil, todos entendem”.
Tudo transcorreu muito bem, e não houve resposta evasiva, com exceção talvez daquela da primeira pergunta. Ao final, curiosamente, ele já se preparava para nos dar um punhado de balinha barata. “É a força do hábito”, disse.
Vamos à entrevista:
Levemente Apimentado: Você Existe?
Papai Noel: O que é a existência para você? O que é a essência? Pensa, logo existe? Existe, logo pensa? Ahá! Papai Noel é cultura, amigão! Segura essa!
Levemente Apimentado: Por que você... Bom, antes de tudo, posso chamá-lo de ‘você’?
Papai Noel: Sim, claro. Depende do presente que eu entrego, chamam-me até de Filho da Puta. E fica bem pior quando não entrego presente. (risos)
Levemente Apimentado: A pergunta era nesse sentido. Por que você entrega presentes ruins para os pobres, e ótimos para os ricos? Não deveria ser o contrário? Porque um pai rico pode compensar comprando do próprio bolso, mas o pai pobre só tem essa oportunidade de ver seu pequerrucho com um brinquedão caro.
Papai Noel: É um pensamento nobre, mas imaginem o filho do pai pobre ganhando, vamos lá, um brinquedo de mil dólares. Como fica depois esse pai no dia das crianças e no aniversário? Ele não vai poder manter o nível, entende? Fora, claro, os problemas com o fisco. Como explicar presentes caros sem uma renda compatível? A Receita Federal cai matando. O mesmo problema, claro, não ocorre com os pais ricos.
Levemente Apimentado: Mas há pais ricos que não declaram a riqueza à Receita, e mesmo assim você dá presentes caros aos filhos...
Papai Noel: Eu sou o bom velhinho, não o bom fofoqueiro FDP. Não gosto de dedurar ninguém. Eu dou presente. A Receita que fique atenta e repare no que andam ganhando os garotões para depois perguntar para o pai cadê a compatibilidade.
Levemente Apimentado: É verdade que você passou a usar a roupa vermelha depois de uma propaganda da Coca-Cola, como mostra esse artigo do Levemente Apimentado?
Papai Noel: Sim, evidente. Isso é fato público. Qual o problema em ser patrocinado? Acha fácil manter esse ritmo? Essa humanidade não sabe procriar, ela prolifera. Parecem uns insetos. Neste ano mesmo, veja você, contratei mais de noventa mil duendes como TEMPORÁRIOS. Sabe o que é isso? Temporários! Fora os que já mantenho na minha fábrica.
Levemente Apimentado: Você usa poluentes na fabricação dos brinquedos?
Papai Noel: Se você me ensinar um outro jeito de fazer os tantos brinquedos idiotas que me pedem, farei com o maior gosto. Como disse, sou o Papai Noel, não um ativista do Greenpeace.
Levemente Apimentado: E os direitos trabalhistas dos duendes?
Papai Noel: Não existem. Primeiro porque não há Direito do Trabalho na região da Escandinávia. Em segundo lugar, toda norma trabalhista volta-se à proteção dos HUMANOS. Duendes não são humanos.
Levemente Apimentado: Mas recentemente houve uma greve...
Papai Noel: Sim, mas ela foi furada por uma leva de imigrantes do complexo do Alemão e da Bolívia. Nunca deixei de dar presentes por isso, aí os duendes voltaram e ficaram na maciota, porque eu sou aquele que presenteia a molecada, e não um devoto de duendes. Aliás, no meu trenó há o adesivo “Eu Atropelo Duendes”, mas é só de sacanagem.
Levemente Apimentado: Por que passa pela chaminé?
Papai Noel: Pois é, tentei debaixo da porta e não consegui.
Levemente Apimentado: Você é católico?
Papai Noel: Eu não. Gosto de criancinha, mas não tanto quanto um padre! (gargalhadas gerais) Não tenho nada a ver com igreja alguma, sou o que eles chamam de símbolo pagão. Mas também ninguém quer nada com nada, né? Católico é o único no mundo que tem mais não praticante que o contrário...
Levemente Apimentado: E por que te chamam de Santa por aí? Não pega mal?
Papai Noel: Pega mal pra caralho, mas fazer o quê. Apelido é assim mesmo, eles colocam e depois não tem como chorar. Vai levando.
Levemente Apimentado: Você gostou quando apareceram na TV fazendo o diabo para provar que você não existe? (no programa Pânico)
Papai Noel: Eu existo. Ao mesmo tempo bebo, fumo e como a mulherada, freqüento inferninhos etc etc etc. Ou seja, eu EXISTO.
Levemente Apimentado: E a Mamãe Noel?
Papai Noel: Que mamãe, rapa! Acorda pra cuspir! Só tem gatinha novinha! Sou macaco velho! Já viu nos Shoppings? Tudo novinha, filé... Dezoito aninhos, já to mandando brasa. Sobrinha-neta Noel seria mais adequado.
Levemente Apimentado: Para finalizar, tem algum recado pra criançada?
Papai Noel: Tenho nada. Quer dizer, tenho sim... Alguns recados, vamos lá:
a) não mandem cartas longas, é inútil. Apenas digam o presente e fim de papo, chega de hipocrisia;
b) peçam coisas de plástico ou alumínio, porque presentinho de ferro, chumbo etc, na boa, é o cu da cobra;
c) se fizer xixi no meu colo eu não dou presente e coloco purgante na balinha para depois você fazer cocô no colo da mamãe.
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